Gnocchi à mesa: bendito o pai que te pariu
(por Cleberson Dias)
Amassava a
massa de nhoque com as mãos nuas. Empregava ali muito carinho. Adorava cozinhar
para os outros. Não sabia ao certo de onde vinha o dom para a culinária.
Pesquisava o passado e ocorria em sua mente que tudo talvez tenha começado de
forma singela com o nhoque que algumas vezes viu seu pai preparando e enrolando
na mesa com farinha e cortando em pedaços bem pequenos. Sim, pipas, raias e
carrinho de rolimã: tudo isso aprendeu com seu pai a fazer. Nutria, às vezes (e
bem às vezes), certo carinho pelo passado. Nada de nostalgia. Era o homem do
hoje.
Quando ele
era pobre, lembrava-se de certa vez quando não teve o que comer e um anjo
(depois descobriu que se tratava do Grupo Paroquial Vicentino de ajuda aos necessitados)
apareceu com uma cesta-básica. Sua mãe correu até o fogão e preparou, com amor,
um arroz. Uma vez um anjo trouxe a ele macarrão e almôndegas. Eram tempos
difíceis, mas ele era amigo do céu.
Temperava
agora a massa com as lágrimas. Não eram de raiva, nem de amargura ou ódio. Mas
eram lágrimas de superação. Não tinha saudades dos períodos de necessidade.
Analisando profundamente, foi uma criança feliz.
Mas a
imagem que ficava agora era aquela, onde ele, menino, corria do fogão à mesa,
com um prato na mão, levando cada pedacinho da massa de nhoque feita pelo seu
pai, para que sua mãe a mergulhasse na panela e, num passe de mágica, aquela
batata amassada com ovos e leite e farinha emergisse na panela de água quente
e, dali, para a panela de molho de tomate com carne moída.
Tinha
saudades daquele pai que, embora abortasse qualquer sinal de evolução familiar
ou a buscasse por caminhos equivocados, ensinou a ele a fazer pipas, raias e
carrinho de rolimã e nhoque.
Eram raros
esses momentos de alegria e unidade familiar, mas eram mágicos. Ahh... Se pudesse voltar no tempo...
Assustou-se
com a água fervendo que respingou em sua mão. Já era quase meio-dia. As visitas
estavam por chegar.
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