A PRIMAVERA ÁRABE
Arrovani Luiz Fonseca
No dia 31 de janeiro ultimo o site do UOL publica uma foto na sua pagina de noticias sobre os recentes fatos no Egito: “We Want Internet”. A rede mundial de computadores, a internet, e os celulares têm ganhado destaque no mundo árabe-islâmico nos recentes protestos envolvendo a Tunísia e o Egito. Os dois países sustentam-se há pelo menos umas três décadas em regimes de governo ditatoriais o que tem sido questionado pela população que troca informações e se organiza politicamente no ideal de transição para um regime de democracia. Ainda que no mundo árabe a palavra democracia soe estranho devido a forte relação religiosa com os Estados, direitos civis e liberdades individuais, espera-se mesmo mudanças.
A onda denominada por alguns jornalistas de “primavera árabe” teve seu epicentro na Argélia pais que vive uma seria crise inflacionaria, desemprego e desabastecimento. Não havendo ligação direta com tais eventos argelinos, Tunísia e Egito foram estimuladas a luta reivindicatória conforme suas realidades.
Na Tunísia, as fórmulas econômicas do FMI transformaram esse país num parque do colonialismo da União Européia. Muitas empresas se instalaram promovendo no país um verdadeiro Milagre Econômico. Por outro lado, forçou a população a miséria, ao analfabetismo, ao desemprego e a emigração. O milagre econômico era para poucos. Somando-se a isso há 23 anos o ditador Zine al-Abidine Ben Ali promoveu o enriquecimento de sua família, pesadíssima repressão policial, além de ser conivente com a corrupção bastante arraigada das instituições políticas.
Mohammed Bouazizi tornou-se o mártir desses novos tempos de protesto na Tunísia e no mundo árabe. O vendedor ambulante imolou-se em Sidi Bouzid iniciando a marcha de contestação.
Os ventos perfumados e tensos da denominada atual “Revolução de Jasmim” da Tunísia chegaram ao Egito do ditador Hosni Mubarak que governa o país desde 1981. Os noticiários têm dado destaque continuo as manifestações no Egito devido a importância estratégica que possui esse pais para assuntos locais. O Egito é o único país a reconhecer a existência do Estado de Israel alem de ser sustentado militarmente pelos EUA segundo informações do recente vazamento de informações de relações internacionais promovidos pelo site Wikileaks. No mesmo dia do feriado nacional em homenagem a policia egípcia correu solto pela internet incentivos de protestos por parte da “juventude oprimida e sem perspectivas c ontra a pobreza”. O site de relacionamentos Facebook chegou a registrar de 87 mil seguidores que chamam o dia 25 de janeiro como “o dia do fim do silêncio e submissão”. Desde então o povo egípcio iniciou suas reuniões públicas utilizando-se de comunicação digital. No confronto arremessam pedras (na praça publica chegam a quebrar o chão para obter tal material) contra a polícia prontamente respondeu com balas de borracha e de gás lacrimogêneo.
Até o momento em que escrevo os acessos a essas comunicações estão cancelados, um apagão da comunicação, os turistas do país debandaram-se e o povo egípcio se aglutina numa prova de enorme resistência no que já é chamado de a “Marcha do Milhão”. A ONU estima que os mortos do protesto já girem em torno de 350 pessoas. Mubarak resiste em quedar-se. Prometeu nesses dias de agitação política no Egito, retirar-se de uma provável reeleição no final do ano, já nomeou ministros, tudo sem efeito. A população quer a saída imediata de Mubarak.
No Oriente Médio países como a Síria já preparam um governo de transição. O alcance da primavera árabe parece cada vez maior. O que impressiona nesse evento ao mesmo tempo tenso e belo é ver que a força da informação via internet e celular estão derrubando ditaduras e sacudindo as certezas de que a ignorância alheia imposta pela força das armas possa sobreviver.
Arrovani Luis Fonceca,
Mestre em História pela UNESP.
(Publicado no mês de fevereiro no Jornal Folha da Cidade – Tietê-SP)